Tractado de la divinança
- Simone Ferreira Gomes de Almeida - Fundação Biblioteca Nacional - FBN
no Tratado de la divinança, ele lança advertências a esse propósito, as quais são mais de uma vez reafirmadas, como, por exemplo, no trecho do Tratado del Dormir, no qual previne que mesmo não negando que pelo conhecimento das datas dos nascimentos se pode “saber e conhecer algumas causas remotas”, isso não basta, nem pode bastar, para que “alguém possa fazer julgamentos determinados das coisas que procedem da vontade dos homens.”⁷
Além da astrologia, outras práticas como, por exemplo, a interpretação dos sonhos, a leitura das mãos, o significado dado à aparição de animais, ao voo e aos sons dos pássaros, e muitos outros eventos sobressalentes do cotidiano, eram tidos como presságios –, mas a primeira era a única reconhecida como um saber pelos eruditos⁸, por isso recebeu atenção de Barrientos em todos os seus tratados. A fronteira entre o que era considerado lícito e o que era ilícito em relação ao saber das estrelas é ainda melhor desdobrada pelo bispo quando sintetiza que “a observação de fenômenos celestes ou atmosféricos é lícita; mas utilizar a informação que nos oferecem os astros para mediar a vontade humana e o livre arbítrio é ilícito.”⁹ Lope de Barrientos, à semelhança do que foi feito pelos veneráveis doutores da Igreja, participa do debate¹⁰ sobre a validade ou não de várias práticas e artes que vieram à tona com a intensificação dos textos e práticas supersticiosas no final do século XIII e, sobretudo, nos séculos XIV e XV, quando se fortalecem igualmente seus opositores.¹ Segundo Kieckhefer, em termos gerais, “os homens de saber da Europa medieval reconheceram dois tipos de magia: a magia natural e a magia diabólica. A magia natural não se distinguia da ciência, senão que era propriamente um ramo dela. Na verdade, era a ciência que se ocupava das virtudes ocultas da natureza. A magia diabólica não se distinguia da religião, senão que era uma derivação perversa dela. Era a religião que se distanciava de Deus e pedia aos demônios ajuda para a resolução de assuntos humanos, contudo nem todos estiveram de acordo com a existência da magia natural.” KIECKHEFER, Richard. La Magia em la Edad Media. Barcelona: Editorial Crítica, 1992, pp. 17- 18.
² ALBARES, Roberto A.; CASTILLO, Pablo G.; MIGUEL, Cirilo F. La Ciencia del Cielo. Salamanca: Europa artes gráficas, 1989, pp.42-51.
³ Sobre quem foi responsável pela queima dos livros (o rei Juan II ou o próprio Lope de Barrientos), diversas considerações são feitas na introdução de: MONGE CARRETERO, M. I. G. Estudio y edición critica del “Tratado del dormir” de Lope de Barrientos. II Edición. Madrid: Universidad Complutense de Madrid, Dpto. Filología Española II, pp. 47-55.
⁴ “Um setor considerável da Igreja católica, assim como do judaísmo e do islã, suspeitou sempre da ortodoxia dos astrólogos”. SAMSÓ, Julio. Tratado de Astrología atribuido a Enrique de Villena. Barcelona: Editorial Humanitas, 1983, Introdução, p. 41.
⁵ CAVALLERO, Constanza. Supersticiosos y Marranos. El discurso anti-mágico de Lope de Barrientos a la luz de la “Cuestión Conversa”. Cuadernos Historia de Espanã. V. 84, 2010, p. 4.
⁶ Desde o Século III a.c., a astrologia genetialógica preenche o vazio deixado pela perda de confiança na adivinhação tradicional; correspondendo a aspirações individualistas e satisfazendo a necessidade intelectual de rigor e lógica científica. MINOIS, Georges. História do Futuro. Lisboa: Editora Teorema, 1996 p.71.
⁹ LOPE DE BARRIENTOS. Tractado de la divinança. Ed. de Paloma Cuenca Muñoz. Cuenca: Ayuntamiento de Cuenca, Instituto Juan de Valdes, 1994, p. 44.
¹⁰ ZAMBELLI, Paola. Astrology and Magic form the Medieval Latin and Islamic World to Renaissance Europe. England: Variorum Collected Studies Series, 2012, I- p. 02.
ALBARES, Roberto A.; CASTILLO, Pablo G.; MIGUEL, Cirilo F. La Ciencia del Cielo. Salamanca: Europa artes gráficas, 1989
CAVALLERO, Constanza. Supersticiosos y Marranos. El discurso anti-mágico de Lope de Barrientos a la luz de la “Cuestión Conversa”. Cuadernos Historia de Espanã. V. 84, 2010
FRAY LOPE DE BARRIENTOS. Tratado del dormir. In: CARRETERO, Maria Isabel García M. Estudio e edición crítica del “Tratado del Dormir” de Lope de Barrientos. Tese (Doutorado em Filología). Madri: Facultad de Filologia, Universidad Complutense de Madrid, 2001
KIECKHEFER, Richard. La Magia em la Edad Media. Barcelona: Editorial Crítica, 1992
LOPE DE BARRIENTOS. Tractado de la divinança. Ed. de Paloma Cuenca Muñoz. Cuenca: Ayuntamiento de Cuenca, Instituto Juan de Valdes, 1994
MONGE CARRETERO, M. I. G. Estudio y edición critica del “Tratado del dormir” de Lope de Barrientos. II Edición. Madrid: Universidad Complutense de Madrid, Dpto. Filología Española II
MINOIS, Georges. História do Futuro. Lisboa: Editora Teorema, 1996
SAMSÓ, Julio. Tratado de Astrología atribuido a Enrique de Villena. Barcelona: Editorial Humanitas, 1983.
THORNDIKE, Lynn. History of Magic and Experimental Science. Fourteenth and fifteenth centuries. New York, Columbia University Press, 1934.
ZAMBELLI, Paola. Astrology and Magic form the Medieval Latin and Islamic World to Renaissance Europe. England: Variorum Collected Studies Series, 2012.Autor do documento: Lope de Barrientos
Nome do documento: Tractado de la divinança – Tractado de caso e fortuna – Tractado del dormir e del despertar e del soñar.
Data da composição: entre 1445 e 1454.
Lugar de composição ou impressão: Zaragosa
Imagem: Manuscrito da Biblioteca Nacional de Espanha
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