O
Tratado dos Sacramentos da Ley Antiga e, de 1399, é um manuscrito originalmente pertencente à Livraria de Santa Maria de Alcobaça, maior biblioteca da história medieval de Portugal. Foi transferido, assim como todas as obras raras pertencentes a instituições religiosas, em 1834, para o poder público, encontrando-se depositado, hoje, no Serviço de Coleções de Reservados, da Biblioteca Nacional de Portugal (BNP), em Lisboa, com acesso condicionado e bastante restrito para consulta.
Trata-se de um conjunto de 105 folhas de pergaminho, escritas em reto e verso, medindo, em média, 357mm por 240mm, em duas colunas de 36 a 38 linhas cada, mas com 37 linhas no geral. Em letra gótica, a obra é o resultado de um projeto codicológico pouco luxuoso, sem iluminuras significativas, exibindo letrinas na sua maioria simples, em azul, roxo ou vermelho, poucas vezes decoradas com filigranas ou antenas. Os títulos ou rubricas são escritos em tinta vermelha, cor que também é utilizada majoritariamente para realçar letras maiúsculas, também profusas no documento, assim como os reclames, bastante regulares.
Corresponde o documento à versão, do castelhano para o português, realizada pelo monge cisterciense Roque de Tomar, das terceira e quarta partes da obra conhecida como
Livro das confissões ou
Libro de las Confessiones, de autoria do clérigo Martín Peréz. Na primeira delas, de cento e três capítulos, distribuídos em setenta e quatro fólios, introduzem-se os sacramentos da Igreja, discorrendo-se sobre o
batismo, a
confirmação, a
comunhão, a
penitência, a
unção póstuma e a
ordem, restando o sétimo e último, o sacramento do
matrimônio, para a segunda parte do texto, cuja narrativa se distribui em trinta e um fólios, com trinta capítulos.
Os sacramentos, definidos como ‘sinais de coisa santa’, são considerados como remédios para a alma, ou seja,
meezinhas espirituais (forma arcaica em português para o étimo latino
medicina), sendo, na obra, apresentados e contextualizados ao detalhe e à exaustão, já que serve o texto de guia aos clérigos para os ensinar e ministrar. Ademais, busca a obra relacionar os sacramentos da nova lei aos da lei antiga, isto é, “q
ue dep
artimento . he entre os sac
ramen | tos da ley uelha e entre os sac
ramentos | da ley noua” (fólio 3rC2), a exemplo da
circuncisão e do
batismo.
É o
Tratado dos Sacramentos da Ley Antiga e Nova um importantíssimo documento para o conhecimento da história da religião e para a representação do português arcaico, que, à altura de sua transcrição, vivia um momento de transição entre a primeira e a segunda fases, em direção ao português moderno.
ReferênciasMACHADO FILHO, Américo Venâncio Lopes.
Tratado dos sacramentos da Ley antiga e NOVA, de 1399: edição diplomática. 1. ed. Independently published, 2019.
MARTINS, Mário, O Penitencial de Martim Pérez em Medieval-Português. Separata da
Revista Lusitânia Sacra, Tomo II, 1957.
PÉREZ, Martín.
Libro de las confesiones. Una radiografía de la sociedad medieval española. Edición crítica, introducción y notas por Antonio García y García, Bernardo Alonso Rodríguez, Francisco Cantelar Rodríguez. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 2002.
PÉREZ, Martín.
Livro das confissões. Edição, estudos e notas de José Barbosa Machado e Fernando Alberto Torres Moreira. Braga: Edições Vercial, 2012.