A
Glosa del Pater Noster é um escrito catequético em língua castelhana, que é conservado em diferentes redações nos seguintes manuscritos:
O
Escorial, h.III.3, ff. 187r-196r (datado de 20/3/1392)
Madrid,
Biblioteca Nacional MS 9260, ff. 39rb – 47va (s. xv, 1ª metade)
Madrid,
Real Academia Española MS 15, ff. 80ra-85ra (s. xv)
Salamanca,
Biblioteca Universitaria, MS 1854, ff. 185va-189va (s. xv)
Contamos, do mesmo modo, com um fragmento traduzido para o catalão no manuscrito: Barcelona
Biblioteca Universitaria 75, fol. 175v. (s. xv)
A oração do Pai Nosso é objeto de comentário partindo de uma divisão da súplica em sete frases ou
petiçiones, associadas respectivamente aos sete dons do Espírito Santo: sapiência, entendimento, conselho, força, ciência, piedade, temor de Deus. O redator oferece uma explicação relativamente breve de cada um deles, que se apoia pontualmente nas citações dos Evangelhos, das Epístolas de Paulo e dos Salmos.
O estilo, reiterativo e abundante em coloquialismo, é adequado à práxis homilinética. A argumentação é simples e eficaz, com pouca erudição teológica ou bíblica, embora ocasionalmente, conceitos bem estabelecidos na tradição tomista sejam invocados, como a distinção entre o mal de culpa e o mal de pena. Além disso, entre as prescrições mais específicas encontram-se a necessidade da confissão nas três páscoas do ano, o valor salvífico da Eucaristia e a prática do perdão e da caridade para com o próximo.
É especialmente notável que, ao contrário de textos semelhantes, como o
Libro de las tres creencias ou
Contra algunos que dizen que ay fadas et ventura et oras menguadas et signos et planetas en que nasçen, ambos atribuidos a Alfonso de Valladolid ou a Pedro Pascual, não há passagens das Escrituras citadas em hebraico na Glosa, o que parece indicar que esta não está destinada principalmente à predicação aos judeus ou aos conversos do judaísmo. O público-alvo é a comunidade secular cristã, cuja consciência religiosa o redator se esforça para fortalecer, insistindo na idéia de que os conteúdos do
Pater Noster não poderiam ser reconhecidos por judeus nem por muçulmanos.
Em duas dessas redações, as dos manuscritos do Escorial e da Biblioteca Nacional, a obra aparece atribuída ao bispo de Jaén, Dom Pedro, prisioneiro dos Nacérida de Granada. De fato, na versão escurialense, o redator se identifica como bispo Dom Pedro: «portanto eu, dom Pedro, bispo de Jaén, prisioneiro na cidade de Granada e com muito cuidado com tal porfia, escrevo em romance o
Pater Noster». Por sua vez, a figura histórica do bispo Pedro de Jaén, falecido em cativeiro, em Granada no final de 1300, foi identificada com o suposto frade mercedário valenciano Pedro Nicolás Pascual, cuja beatificação no século XVII, levou à publicação em 1676, da Primeira edição (em tradução latina) do corpus de obras que lhe foram atribuídas, entre as quais, esta
Glosa del Pater Noster, agora denominada
Glosa orationis dominicae. A primeira edição na língua original castelhana foi a de Pedro Armengol Valenzuela:
Obras de San Pedro Pascual mártir, obispo de Jaén y religioso de la Merced, en su lengua original, con la traducción latina y algunas anotaciones, vol. III, pp. 18-37. Roma, 1905-1908 (segundo o ms. O Escorial h-III-3).
A atribuição da Glosa ao bispo Pedro de Jaén raramente foi questionada. Como foi visto, as redações mais antigas do texto, a escurialense e a do códice da BNE, afirmam-na expressamente; ademais, tanto seu estilo puramente homilítico, como o público cristão ao qual parece dirigida, são coerentes com o exercício de pregação oral para cativos cristãos em Granada que a tradição atribuia à personagem. Contudo, a figura do bispo Dom Pedro e o tipo de atividades que ele realizou durante o cativeiro estão envoltos em muitas obscuridades para garantir essa hipótese.