O
Flos Sanctorum é um manuscrito fragmentário, de caráter hagiográfico, escrito em pergaminho, paleograficamente e linguisticamente datável da segunda metade do século XIV. Integra, hoje, o espólio documental medieval mais antigo existente no Brasil, cujo conjunto é conhecido por
Manuscritos Serafim da Silva Neto, em homenagem a seu antigo possuidor, eminente filólogo e bibliófilo, encontrando-se, desde 1964, sob a guarda do Setor de Obras Raras da Biblioteca Central da Universidade de Brasília.
Os documentos relativos a narrativas de vidas de santos remanescentes nas bibliotecas portuguesas não parecem associar-se à mesma tradição textual a que teria pertencido o
Flos Sanctorum, podendo-se, no estágio atual do conhecimento do espólio documental em língua portuguesa, afirmar tratar-se esse manuscrito de um
codex unicus.
Não existe precisão sobre o local de produção desse importante documento, mas as pesquisas realizadas até o momento têm apontado para algum mosteiro do norte de Portugal, muito provavelmente.
O teor do
Flos Sanctorum discorre sobre a vida, morte ou feitos de diferentes religiosos, ermitãos, anacoretas ou santos, da tradição cristã, a exemplo de San Panuço, Sancto Jsidro, San Serapion, Sancto Apollonio, San Dyoscoro, Sã Macario do Egipto, San Ffruytoso, Sancta Beenta, Sancta Paaya, São Symhon, San Donadeu, Sancto Nauto, Sam Masono, Santo Jnnocencio, São Paayo, Sã Johãne, Sancto Patriarcha, San Valerio, Sancto Emiliam ou Mihã, entre outros, intercalando o texto, para além de mandados da Igreja (crer em Deus, cultivar simplicidade, amar e dizer a verdade, guardar castidade, ser largo de coração, ter fé na verdade, temer Deus e obedecer seus mandados, ter continência ou moderação, não duvidar, afastar-se da má cobiça, cultivar a boa cobiça ou boa ambição, distanciar-se da tristeza, não temer o inimigo), o registro de diversos milagres e exemplos voltados à alegada edificação moral e religiosa.
Das cento e quarenta e três narrativas identificadas, bastante variáveis na dimensão textual, nem todas exibem rubricas ou títulos e incluem, entretanto, outras histórias além das anunciadas. Dessas, algumas, conquanto não sejam da mesma tradição textual, como antes registrado, encontram-se patentes no Códice Alcobacense CCLXVI/ANTT 2274, do século XV, a exemplo da Vida de Santa Pelágia (Paaya), Vida de Tassis ou Tarsis e Vida de uma Monja, revelando-se em ótimo material de pesquisa sobre dois momentos históricos da língua portuguesa, em razão de terem sido o
Flos Sanctorum e o Códice Alcobacense antes referido produzidos em períodos diferentes, da Idade Média portuguesa.
Referências BibliográficasCASTRO, Ivo (dir.). Vidas de Santos de um manuscrito alcobacense (Colecção mística de fr. Hilário da Lourinhã, Cód. Alc. CCLXVI / ANTT 2274). Separata de:
Revista Lusitana (Nova série), Lisboa, n. 4, 1985.
MACHADO FILHO, Américo Venâncio Lopes.
Um flos sanctorum trecentista em português. Brasília: Editora UnB, 2009.