Esta obra foi composta pelo frade dominicano Juan López de Salamanca (c. 1389-1479). Juan López foi Mestre de Teologia no Convento de São Estevão de Salamanca, predicador por terras castelhanas e defensor da ortodoxia cristã contra outras religiões ou contra movimentos reformistas. Por volta de meados do século XV começou a servir aos poderosos condes de Plasença – dom Álvaro de Zúñiga e sua segunda esposa dona Leonor Pimentel –. Foi confessor e diretor espiritual da influente Condessa de Plasença a quem dirige, além de seus
Evangelios moralizados, vários de seus escritos.
A obra teve destinatário duplo: em uma primeira redação composta entre 1460 e 1468, Juan López dirigiu à Condessa de Plasença, porém, quiçá devido ao relativo éxito de sua difusão manuscrita – encontramos cópias em várias bibliotecas nobiliárias de finais do século XV e princípios do século XVI -, se imprimiu em 1490 (Zamora: Antón de Centenera) para seu uso, coma material predicável para outros religiosos.
Tal como foram conservados, os
Evangelios moralizados estão dividos em dois livros – embora originalmente quiçá fossem três – compostos de 38 comentários em forma de sermão sobre os evangelhos dominicais segundo o calendário litúrgico. Como indica seu título, Juan López dedica boa parte destes comentários para extrair o sentido moralizante de cada evangelho.
O conteúdo moralizante da obra configura uma mensagem pastoral dirigida ao povo castelhano do século XV. Esta mensagem se ajusta a ortodoxia religiosa e centra-se em três núcleos principais: o pecado, o modelo de vida penitencial e, por último, as postrimerias do homem. Em resumo, o cristão deve esforçar-se para evitar cair nas tentações do pecado pelo que deve levar uma vida penitencial, praticando a virtude, passando privaçõe, dando esmolas, confesando-se, assistindo as celebrações religiosas… Ao final da sua vida, o homem terá que se apresentar diante de Deus que decidirá, segundo seu comportamento, castigar-lhe a condenação do inferno ou premiar-lhe com a salvação eterna junto a Deus. Ademais, Juan López ataca as crenças dos judeus, muçulmanos e inclusive de alguns movimentos heréticos peninsulares como os
fraticelli encabeçados pelo frei Felipe de Berbegal ou os chamados Hereges de Durango.
Por último, a obra nos transmite uma imagen dignificada da mulher que, embora apresente os defeitos tradicionalmente atribuídos a condição feminina, também mostra suas virtudes e fortalezas, devido provavelmente ao fato de que a destinatária da obra era precisamente uma mulher poderosa.