A autoria da obra é objecto de discussão, sendo atribuída ou a Guilherme Parisiense ou, em alguns catálogos alemães, ao dominicano alemão Johannes Herold.
Inicialmente publicado em latim, entre 1479 e 1484 foi feita uma tradução para o castelhano, por Gonçalo de Santa María. É a partir desta que, Rodrigo Álvares fez a versão portuguesa, impressa em Portugal, pela primeira vez, no Porto, em 1497. Note-se, no entanto, que a edição portuguesa tem problemas de tradução que não se encontram na castelhana (MACHADO, 2008, p. 13).
O objectivo da obra era ser lida em privado, como complemento à leitura ou audição dos textos sagrados, daí a necessidade de que pudesse ser compreendida, e, portanto, traduzida do latim para as línguas vulgares, uma vez que o latim era cada vez menos compreendido na Península Ibérica. O que está em causa é, por um lado, a instrução dos cristãos alfabetizados e do clero, que já tinha dificuldade em perceber o que lia em latim, e, por outro, o tópico de aproveitamento do tempo de forma útil – “E por que cada huum estando em sua casa despenda ho tempo antes em ler tam altos mistérios: que em outros livros de pouco fruyto”. O livro reúne os textos canónicos dos evangelhos e das epístolas de acordo com os tempos litúrgicos, seguidos da sua glosa, desenvolvimento e explicação. Estando em vulgar, os clérigos poderiam usar os textos ali reunidos como auxílio na preparação da missa.
O único exemplar hoje conhecido da edição de Rodrigo Álvares de 1497 encontra-se em Lisboa, na Biblioteca Nacional de Portugal. É um in-folio, com 199 fólios impressos, correspondentes a 398 páginas impressas a duas colunas. As duas colunas são encimadas por um cabeçalho, que indica se o texto se refere a um evangelho ou a uma epístola. O tipo de caracteres é gótico. O papel tem dez marcas de água diferentes.
Acompanhando o texto dos evangelhos, há gravuras quadrangulares com cenas alusivas ao teor do evangelho que figuram. Com excepção daquela que ilustra o evangelho do dia de Pentecostes, são gravuras simples e de “cunho popular” (ANSELMO, 1991, p. 173). As imagens pretendem facilitar a compreensão dos textos, através da representação figurativa do que vem escrito e, ao mesmo tempo, embelezá-lo. Correspondem, portanto, ao tópico do saber / sabor: através do embelezamento pelas imagens pretende-se facilitar a apreensão do texto e, assim, contribuir para o seu saber.
Referências:
ANSELMO, Artur.
Origens da imprensa em Portugal. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1981.
MACHADO, José Barbosa.
Evangelhos e epístolas com suas exposições em romance. Edição e estudo. Braga: Edições Vercial, 2008.