Tratado en defensa de virtuosas mujeres de Diego de Valera
- Marcelo Pereira Lima - LETHAM-PPGH-UFBA
O Tratado en defensa de virtuosas mujeres (TDMV)é uma obra laudatória escrita por Diego de Valera no século XV. Valera elaborou diversas obras poético-literárias, cronísticas, genealógicas, filosófico-panegíricas, doutrinárias, porém o TDMV foi o texto mais diretamente voltado para enaltecer as virtudes das mulheres. Dedicado à rainha de Castela e Leão, Dona Maria, é conhecido através de 5 manuscritos incluídos em coletâneas de textos de procedências distintas, entre códices facsimilares ou miscelâneas. Três deles encontram-se na Biblioteca Nacional de España, podem ser acessados na Biblioteca Digital Hispánica (MSS/134I, ff. Ir-14v; MSS/12672, ff. 94r-117r, MSS/9985, ff. 52r-64r), e são respectivamente conhecidos como M1, M2 e M3; o outro está na Real Biblioteca del Monasterio de San Lorenzo de El Escorial, conhecido como E, localizado no códice N-I-13 (ff. 79r-83v) e, fora da Espanha, o N 82705, (ff. , lr- 17r) está custodiado pela Hispanic Society of America em Nova Iorque. Embora as datas dos códices variem entre os séculos XV e XVI, sendo motivo de debates, costuma-se situar o Tratado por volta de 1444.
O TDMV foi redigido em prosa epistolar, escrito em castelhano, que segue algumas orientações clássicas de organização textual, mas modifica alguns detalhes segundo a retórica estabelecida em sua época. É uma obra com intuito laudatório que se diferencia dos outros trabalhos de Valera por concentrar a atenção sobre as mulheres e sustentar a polêmica da época sobre o lugar fixo de uma suposta “natureza” feminina. É o que a historiografia tem chamado de querelle des femmes. O texto é uma tentativa de participação na polêmica contra as posições excessivamente negativas sustentadas por Álvaro de Luna, em sua obra De las claras mujeres, ou por outro dos seus opositores intelectuais, como Juan Rodrigues del Padrón, no Libro de las Donas. A polêmica é a razão atribuída por Valera para a escrita de sua obra. Ela está voltada para a nobreza letrada, não especificamente versada no assunto, mas interessada nos temas em questão.
O TDMV elabora argumentos e usa recursos filosóficos para manter sua posição diante da polêmica e não deixa de mesclar um didatismo com a narrativa de exemplos retirados de textos “historiográficos” e “literários”. Procura desvelar os referentes considerados históricos, relatando capítulos de uma vida, detalhes provenientes da mitologia greco-romana ou fragmentos de textos hagiográficos, bíblicos, entre outros. As fontes mais usadas na obra são bastante amplas e estão ligadas às tradições textuais greco-romanas e judaico-cristãs. O campo intertextual estende-se desde menções explícitas a Aristóteles, Sêneca, Salústio Crispo, Lúcio Anneo, Ovídio, Cícero, passando pelos textos bíblicos dos antigo e novo testamentos, com passagens pela patrística (Agostinho, Isidoro de Sevilha, Boécio), até menções a Egídio de Roma, Dante Alighieri e Boccaccio. Diego de Valera não possui uma postura subserviente diante das autoridades que cita. Ao lado do interesse retórico de fundamentar seus argumentos pelo critério da auctoritas literária, há uma inclinação em esclarecer e, certas vezes, desfazer os argumentos vistos como equivocados por ele.
A proposta ideal era refutar três argumentos assumidos pelos chamados “maldizientes”, espécies de misóginos radicais, diríamos hoje. O primeiro seria de um provérbio atribuído a Sêneca em que este afirmaria então que “é boa a mulher quando claramente é má”. O segundo diz que “a linhagem humana é muito fraca, ao ponto de não podermos resistir às tentações, e que é verdade que as mulheres naturalmente são mais fracas que os homens, que muito menos podem resisti-las”. A terceira argumentação seria a de que “ao menos em pensamento não há alguma mulher que não seja adultera”. Ele se deslocou entre as especulações de caráter universal, que aparentemente incluía as mulheres no interior da condição humana, porém, esforçou-se em associá-las a uma casuística baseada na narração de exemplos de mulheres virtuosas por serem virgens castas, filhas devotadas, viúvas continentes e dedicadas mulheres casadas. Por isso, na tipologia móvel de Valera, há virtudes como beleza, virgindade, domesticidade, brandura, autosacrifício, nobreza moral e parental, e muitas delas estavam mescladas às virtudes consideradas masculinas tais como a liderança, intrepidez, a coragem de pegar em armas e vingar-se, usando a força física e a violência. Se a astúcia feminina era uma virtude negativa, embora tolerada em determinados contextos, ela era substituída e misturada à honradez. Havia graus e escalas ambíguas do feminino e do masculino, constituindo extremos virtuosos que se moviam, se mesclavam, combinando-se interna e externamente, tanto para o lado do feminino (virgindade, castidade, abnegação, dedicação, autoanulação voluntária e involuntária) quanto para o masculino (coragem, força, lealdade, violência legítima). Mas eram graus de comportamentos igualmente essencializados.
É difícil não ver no panegírico construído por Valera uma outra forma de ver a conexão entre as relações de poder e as diretrizes de gênero. Contudo, não se trataria simplesmente do poder como sinônimo de guerra, intrigas palacianas, estratégias de governo, negociações e diplomacia. Em parte, isso também está presente. É inegável! Todavia, como ocorre com outras obras valerianas e coetâneas, o Tratado era uma obra que procurava justificar e compensar o déficit de legitimidade das figuras femininas quando elas assumiam ou mediatizavam atividades consideradas masculinas. Por tudo isso, Diego de Valera pode ser considerado tanto um questionador ou um crítico das tradições misóginas que narrava, como também um conservador e legitimador delas.
El Tratado en defensa de virtuosas mujeres (TDMV) es una obra laudatoria escrita por Diego de Valera en el siglo XV. Valera ha producido varias obras doctrinales poético-literarias, cronísticas, genealógicas, filosófico-panegíricas, pero el TDMV fue el texto más directamente dirigido a ensalzar las virtudes de las mujeres. Dedicado a la Reina de Castilla y León, Doña María, el texto se conoce a través de 5 manuscritos incluidos en colecciones de distintas procedencias, entre códices facsimilares o misceláneas. Tres de ellos se encuentran en la Biblioteca Nacional de España y se puede accederlos en la Biblioteca Digital Hispánica (MSS / 134I, ff. Ir-14v; MSS / 12672, ff. 94r-117r, MSS / 9985, ff. 52r-64r ), y son conocidos respectivamente como M1, M2 y M3; el otro está en la Real Biblioteca del Monasterio de San Lorenzo de El Escorial, y es conocido como E y ubicado en el códice NI-13 (ff. 79r-83v) y, fuera de España, el N 82705, (ff., lr-17r) está custodiado por la Hispanic Society of America en Nueva York. Aunque las fechas de los códices varían entre los siglos XV y XVI, siendo materia de debate, el Tratado suele situarse alrededor de 1444.
El TDMV fue escrito en prosa epistolar y en castellano, que sigue unas pautas clásicas de organización textual, pero modifica algunos detalles según la retórica establecida en su momento. Se trata de una obra con finalidad laudatoria que se diferencia de las otras de Valera en que centra la atención en las mujeres y sostiene la polémica de la época sobre el lugar fijo de una “naturaleza” supuestamente femenina. Esto es lo que la historiografía ha llamado “querelle des femmes”. El texto es un intento de participar en la polémica contra las posiciones excesivamente negativas de Álvaro de Luna, en su obra De las claras mujeres, o de otro de sus oponentes intelectuales, como Juan Rodrigues del Padrón, en el Libro de las Donas. La controversia es el motivo que da Valera para escribir su obra. Está dirigida a la nobleza letrada, no específicamente versada en el tema, pero interesada en los asuntos en cuestión.
El TDMV elabora argumentos y utiliza recursos filosóficos para mantener su posición frente a la controversia y no deja de mezclar un didacticismo con la narrativa de ejemplos tomados de textos “historiográficos” y “literarios”. Se busca desvelar las referencias consideradas históricas, relatando capítulos de una vida, detalles de la mitología grecorromana o fragmentos de textos hagiográficos y bíblicos, entre otros. Las fuentes más utilizadas en la obra son bastante amplias y están vinculadas a las tradiciones textuales greco-romanas y judeocristianas. El campo intertextual se extiende desde las menciones explícitas de Aristóteles, Séneca, Salustio Crispo, Lucio Anneo, Ovidio, Cicerón, pasando por los textos bíblicos del Antiguo y Nuevo Testamentos, con pasajes por la Patrística (Agustín, Isidoro de Sevilla, Boecio), hasta menciones a Egidio de Roma, Dante Alighieri y Boccaccio. Diego de Valera no está subordinado a las autoridades que cita. Además del interés retórico por basar sus argumentos en el criterio de la auctoritas literaria, existe una inclinación por aclarar y, en ocasiones, deshacer los argumentos que él considera erróneos.
La propuesta ideal era refutar tres argumentos asumidos por los llamados “maldizientes”, especies de misóginos radicales, diríamos hoy. El primero sería de un proverbio atribuido a Séneca en el que luego afirmaría que “es buena la muger quando clara mente es mala”[sic]. El segundo dice que "el linaje humanal sea tanto flaco que no podemos rresistir las tentaçiones, y sea verdat las mugeres natural mente ser mas flacas que los ombres, que mucho menos podran rresistirlas" [sic]. El tercer argumento sería que “que alo menos por pensamjento no ay alguna que no sea adultera” [sic]. El autor se movió entre especulaciones de carácter universal, que aparentemente incluían a las mujeres dentro de la condición humana, sin embargo, se esforzó por asociarlas con una casuística basada en la narración de ejemplos de mujeres virtuosas por ser vírgenes castas, hijas devotas, viudas continentes y dedicadas mujeres casadas. Por tanto, en la tipología móvil de Valera, hay virtudes como la belleza, la virginidad, la domesticidad, la dulzura, el autosacrificio, la nobleza moral y parental, y muchas de ellas se mezclaron con virtudes consideradas masculinas como el liderazgo, la intrepidez, el coraje para coger armas y vengarse, utilizando la fuerza física y la violencia. Si la astucia femenina era una virtud negativa, aunque tolerada en ciertos contextos, fue reemplazada y mezclada con la honradez. Existían grados y escalas ambiguos de femenino y masculino, constituyendo extremos virtuosos que se movían, mezclaban, combinaban interna y externamente, tanto por el lado femenino (virginidad, castidad, abnegación, dedicación, autoanulación voluntaria e involuntaria) como por el masculino (coraje, fuerza, lealtad, violencia legítima). Pero eran grados de comportamiento igualmente esencializados.
Es difícil no ver en el panegírico construido por Valera otra forma de ver la conexión entre las relaciones de poder y las directrices de género. Sin embargo, no se trata simplemente de una cuestión de poder como sinónimo de guerra, intrigas palaciegas, estrategias gubernamentales, negociaciones y diplomacia. En parte, esto también está presente. ¡Es innegable! No obstante, como ocurre con otras obras valerianas y contemporáneas, el Tratado fue una obra que buscaba justificar y compensar el déficit de legitimidad de las figuras femeninas cuando asumían o mediaban actividades consideradas masculinas. Por todo ello, Diego de Valera puede ser considerado tanto un cuestionador o un crítico de las tradiciones misóginas que narraba, así como un conservador y legitimador de las mismas.
Autor do documento: Diego de Valera
Título do documento: Tratado en defensa de virtuosas mujeres (Manuscrito)
Data da composição: século XV.
Lugar de composição ou impressão: España
Imagem: Manuscrito da Biblioteca Nacional de España. Mss/1341 - http://bdh.bne.es/bnesearch/detalle/bdh0000038171