Barlaam y Josafat
- Constance Carta - Université de Genève
Ainda que não pareça, pela extrema cristianização a que foi submetido, o Barlaam y Josafat pertence ao fértil caudal de narrações que se implantaram no ocidente medieval europeu em razão do contato com a literatura em língua árabe. Compartilha com o Calila y Dimna e o Sendebar a origem, que remonta à Índia ou, pelo menos, ao Oriente: as três obras sofreram uma longa cadeia de traduções e adaptações, semelhantes em alguns de seus elos (uma etapa bagali por volta do século VIII), antes de serem traduzidas para o castelhano no século XIII. As três obras costumam se agrupar sob o rótulo de “prosa exemplar”, que se refere tanto à forma literária dos textos quanto ao propósito de sua escrita e o contexto de sua recepção: tratam-se de obras de caráter sapiencial destinadas a ensinar deleitando, como mostra o elevado número de contos, fábulas, e exempla unidos em sua estrutura. Pela exaltação dos valores cristãos e da vida eremita em particular, o Barlaam y Josafat é, sem dúvida, uma obra de natureza doutrinária e pastoral, bem como hagiográfica.
Apesar de serem conhecidas mais de cento e cinquenta reelaborações da lenda, nos mais variados idiomas, somente se conservam três manuscritos castelhanos do Barlaam y Josafat. Contrariamente aos do Calila y Dimna e ao do Sendebar, derivam de versões latinas e não árabes – embora estas devessem estar circulando paralelamente pela Península Ibérica. Datam do século XV, mas o estado da linguagem indica que são cópias de originais mais antigos, provavelmente do século XIII. Os manuscritos chamados P (por terem pertencido à Biblioteca de Palacio) e G (por terem pertencido ao bibliófilo Pascual de Gayangos) apresentam características que indicam que devem ser cópias do mesmo original; o primeiro, intitulado El Libro de Berlan y del rrey josapha de india, conserva-se na Biblioteca Universitária de Salamanca (ms. 1877), o segundo, na Biblioteca Nacional de España (ms. BNE 18017), sob o título El libro del bien aventurado Barlaan e del infante josaffa, fijo del rrey Avenir, el qual ffizo Sant juan Damaçeno. A atribuição de uma versão grega do século VIII à autoridade de São João Damasceno é falsa, porém permitiu assegurar o êxito e a descendência do texto. O terceiro manuscrito medieval, chamado S por ser mantido na Biblioteca Universitária de Estrasburgo (ms. 1829), apresenta uma versão abreviada da história dos santos e é tradução do décimo quinto capítulo do Speculum historiale de Vicente de Beauvais (séc. XIII).
A história narra a conversão ao cristianismo do infante Josafat por influência do eremita Barlaam. A relação professor-discípulo e o conflito religioso permeiam quase todo o texto, cujo eixo central se articula em torno a uma larga e complexa disputa teológica. O quadro narrativo inicial, todavia, faz relações com a vida de Siddhartha Gautama, o Buda: o horóscopo prévio ao nascimento do tão desejado herdeiro ao trono; a reclusão do príncipe em um palácio daqueles em que estão proscritas todas as fontes de dor e de sofrimento, tanto físicas como psicológicas; a saída do palácio e os sucessivos encontros com um leproso, um cego e um velho que marcam o repentino despertar de Josafat (para Buda, foram um velho, um enfermo, um cadáver e um asceta); a meditação derivada da consciência da morte e da condição da vida do homem na terra; a revelação à fé cristã; a santidade alcançada após uma vida exemplar, eremítica em sua maior parte. No entanto, a cristianização completa de todos e cada um desses elementos impediu o reconhecimento, até inícios do século XVIII, da origem budista da trama original.
A sabedoria é um dos principais temas que sustentam a história da vida dos dois santos e também se reflete nas aparições de uma longa lista de personagens secundários, tais como o “físico das palavras” ou o “rouxinol dotado de palavra”. A sabedoria é concebida a partir de uma perspectiva teológico-moral que deveria estar relacionada ao campo da pregação e dos sermões, bem como à influência das ordens mendicantes, entendidas como uma expressão do ideal evangélico. É uma concepção de sabedoria que nada tem a ver com as raízes orientais da trama original; o mesmo não se pode dizer de Calila e Dimna e do Sendebar, que revelam uma maior permeabilidade à visão do mundo que surge do contato com as fontes árabes, em que a sabedoria se relaciona melhor com a astúcia, a capacidade para trazer à luz a mentira, e outros matizes mais próprios de uma visão pragmática aplicada à educação de governantes (enquanto estas duas obras foram lidas como espelhos de príncipes).
Para os Padres da Igreja, somente Deus pode abarcar a totalidade do conhecimento. O texto de Barlaam y Josafat menciona frequentemente a “sabedoria de Deus”, através da qual é aludida, portanto, a do povo cristão. A posse e aplicação de um conhecimento limitado, como é o dos homens, é uma maneira de participar da divindade, é uma manifestação de Deus na terra. Ele é a fonte de todo conhecimento, Ele decide o quanto oferece a cada uma de suas criaturas. A “loucura”, por sua parte, deve ser interpretada como o erro em acreditar nas falsas verdades, falsos deuses; por isso que os “loucos sábios” do texto nos são revelados, após o aparente oximoro, como teólogos de outras religiões. O cristianismo triunfa.
Algumas das dez parábolas difundidas ao longo do relato são encontradas novamente em outras obras, como o Libro del conde Lucanor, de Dom Juan Manuel (1335). Quanto à história dos santos Barlaam e Josafat, teve um êxito plurissecular. Jacobo de la Vorágine (Jacques de Voragine) a reúne em sua Leyenda dorada (s. XIII) e inspira aos autores peninsulares até o século XVIII, antes de perder boa parte de sua popularidade nos tempos mais recentes.
Aunque no lo parezca por la extrema cristianización a la que fue sometido, el Barlaam y Josafat forma parte del fértil caudal de narraciones que se han implantado en el occidente medieval europeo a raíz del contacto con la literatura en lengua árabe. Comparte con el Calila y Dimna y el Sendebar un origen común que se remonta a India o, por lo menos, a Oriente: las tres obras sufrieron una larga cadena de traducciones y adaptaciones, semejante en algunos de sus eslabones (una etapa bagdadí alrededor del siglo VIII), antes de ser vertidas al castellano en el siglo XIII. Las tres obras se suelen agrupar bajo el marbete de «prosa ejemplar», el cual remite tanto a la forma literaria de los textos como al propósito de su redacción y al contexto de su recepción: se trata de obras de carácter sapiencial destinadas a enseñar deleitando, como lo muestra el elevado número de cuentos, fábulas y exempla engarzados en su estructura. Por la exaltación de los valores cristianos, y de la vida eremítica en particular, el Barlaam y Josafat es, sin lugar a dudas, una obra de carácter doctrinal y pastoral, al mismo tiempo que hagiográfico.
A pesar de que se conozcan más de ciento cincuenta reelaboraciones de la leyenda en los más variados idiomas, solo se conservan tres manuscritos castellanos del Barlaam y Josafat. Contrariamente a los del Calila y Dimna y del Sendebar, derivan de versiones latinas y no árabes –aunque estas debieron de estar circulando paralelamente por la Península Ibérica. Datan del siglo XV, pero el estado de la lengua indica que son copias de originales más antiguos, probablemente del siglo XIII. Los manuscritos llamados P (por haber pertenecido a la Biblioteca de Palacio) y G (por haber pertenecido al bibliófilo Pascual de Gayangos) presentan rasgos que indican que deben de ser copias de un mismo original; el primero, titulado El Libro de Berlan y del rrey josapha de india, se conserva en la Biblioteca Universitaria de Salamanca (ms. 1877), el segundo en la Biblioteca Nacional de España (ms. BNE 18017), bajo el título El libro del bien aventurado Barlaan e del infante josaffa, fijo del rrey Avenir, el qual ffizo Sant juan Damaçeno. La atribución de una versión griega del siglo VIII a la autoridad de san Juan Damasceno es falsa, pero permitió asegurar el éxito y la descendencia del texto. El tercer manuscrito medieval, llamado S por conservarse en la Biblioteca Universitaria de Estrasburgo (ms. 1829), presenta una versión abreviada de la historia de los santos y es traducción del decimoquinto capítulo del Speculum historiale de Vicente de Beauvais (s. XIII).
La historia narra la conversión al cristianismo del infante Josafat por influencia del ermitaño Barlaam. La relación de maestro a discípulo y el conflicto religioso impregnan casi todo el texto, cuyo eje central se articula en torno a una larga y compleja disputa teológica. El entramado narrativo inicial todavía guarda relaciones con la vida de Siddhartha Gautama, el Buda: el horóscopo previo al nacimiento del tan deseado heredero al trono; la reclusión del príncipe en un palacio del que están proscritas todas las fuentes de dolor y de sufrimiento, tanto físicas como psicológicas; la salida del palacio y los sucesivos encuentros con un leproso, un ciego y un viejo que marcan el repentino despertar de Josafat (para Buda, fueron un viejo, un enfermo, un cadáver y un asceta); la meditación derivada de la conciencia de la muerte y de la condición de la vida del hombre en la tierra; la revelación a la fe cristiana; la santidad conseguida tras una vida ejemplar, eremítica en su gran parte. Sin embargo, la cristianización cabal de todos y cada uno de estos elementos impidió reconocer, hasta bien entrado el siglo XVIII, el origen budista de la trama original.
La sabiduría es uno de los temas principales que vertebran el relato de la vida de los dos santos y se plasma también en las apariciones de una larga lista de personajes incluso secundarios, tales como el «físico de palabras» o el ruiseñor dotado de palabra. La sabiduría se concibe desde una perspectiva teológico-moral que habría que relacionar con el ámbito de la predicación y de los sermones, así como con la influencia de las órdenes mendicantes, entendidas como expresión del ideal evangélico. Es una concepción de la sabiduría que nada tiene que ver con las raíces orientales de la trama original; no se puede decir lo mismo del Calila y Dimna y del Sendebar, que revelan una mayor permeabilidad a la visión del mundo surgida a contacto con las fuertes árabes, donde la sabiduría se relaciona más bien con la astucia, la capacidad para sacar a la luz la mentira, y otros matices más propios de una visión pragmática aplicada a la educación de gobernantes (en cuanto estas dos obras se leyeron como espejos de príncipes).
Para los Padres de la Iglesia, solo Dios puede abarcar la todalidad del saber. El texto del Barlaam y Josafat menciona a menudo la «sabiduría de Dios», a través de la cual se alude, por lo tanto, a la del pueblo cristiano. La posesión y aplicación de un saber limitado, como lo es el de los hombres, es una manera de participar en la divinidad, es una manifestación de Dios en la tierra. Él es fuente de todo saber, Él decide cuánto otorga a cada una de sus criaturas. La «locura», por su parte, tiene que interpretarse como el equivocarse en creer en falsas verdades, falsos dioses; de ahí que los «locos sabios» del texto se nos descubren, tras el aparente oxímoron, como los teólogos de otras religiones. El cristianismo triunfa.
Algunas de las diez parábolas esparcidas a lo largo del relato se vuelven a encontrar en otras obras, como en el Libro del conde Lucanor de don Juan Manuel (1335). En cuanto a la historia de los santos Barlaam y Josafat, tuvo un éxito plurisecular. La recoge Jacobo de la Vorágine (Jacques de Voragine) en su Leyenda dorada (s. XIII) e inspira a los autores peninsulares hasta el siglo XVIII, antes de perder buen parte de su popularidad en tiempos más recientes.
ALVAR, Carlos. “Barlaam y Josafat: tres lecturas”. In: UHLIG, Marion; FOEHR-JANSSENS, Yasmina (ed.). D’Orient en Occident. Les recueils de fables enchâssées avant les Mille et une Nuits de Galland (Barlaam et Josaphat, Calila et Dimna, Disciplina clericalis, Roman des Sept Sages). Turnhout: Brepols, 2014, pp. 115-128.
_______; José Manuel LUCÍA MEGÍAS. Diccionario Filológico de Literatura Medieval Española. Textos y transmisión. Madrid: Castalia, 2002, pp. 205-207.
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Aqui começa o Livro do bem-aventurado Barlam e do infante Josafat, filho do Rei Avennir, o qual fez São João Damasceno.
Segundo conta, São João Damasceno que foi grego muito santo e muito sábio e que escreveu em grego esta vida de Barlaam e do Rei Josafat, na época em que os monastérios começavam a ser feitos e começaram a alegrar-se por todo o mundo muitos homens que se tornavam monges e espalharam a alta fama de suas virtudes e santa vida que ocupou toda a terra até chegar aos índios, o que foi tão efetivo que incitou neles semelhante zelo, de maneira que muitos deles, deixando tudo, foram aos desertos e em corpo mortal traziam a vida dos anjos.
Autor do documento: Anônimo
Título do documento: Barlaam y Josafat
Data de Composição: século XIII
Lugar de composição ou impressão: Espanha
Biblioteca Nacional de España.